A cada verão repetem-se as tragédias e a omissão


Publicada dia 28/02/2023 13:43

A cada mudança de estação é possível observar intensos acontecimentos e intervenções da natureza na região litorânea e também no planeta. A prova está no último evento conhecido como o maior desastre natural que aconteceu na cidade do Guarujá/SP, litoral da Baixada Santista, no dia 3 de março de 2020, ceifando 34 vidas nos Morros da Bela Vista, Barreira e Serra do Guararu, nos deslizamentos de terra.

No Guarujá, depois de uma semana de intensas chuvas sem intervalo, encharcando os morros, no sexto dia choveu 300 mm em 24h, e após 3 anos do último desastre em 2020, voltamos a conhecer outra tragédia ocorrida com menos dias de chuva, porém com um volume intenso de aproximadamente 400 mm nas últimas 24h, o maior dos últimos 70 anos, segundo a administração municipal.

O número de mortos em decorrência das chuvas históricas que atingiram o Litoral Norte Paulista, no último final de semana (dias 18 e 19) chegou a 57, sendo 56 em São Sebastião e 1 em Ubatuba. O total foi atualizado na manhã desta sexta (25) pelo Governo do Estado. Ao todo, 47 vítimas já foram identificadas e os corpos liberados para sepultamento. São 16 homens, 16 mulheres e 15 crianças. O total de pessoas fora de casa, desabrigadas ou desalojadas, chega a 2500.

O volume que caiu em Bertioga, 683 mm acumulados no período, é o maior registro do sistema até o momento. Na tragédia de Petrópolis, em 2022, foram registrados 534,4 mm. Já o recorde do Inmet, de 1991, da cidade de Florianópolis, foi de 404,8 mm em 24 horas.

Os números só vem mostrando e anunciando que a cada evento, ano após ano, os acontecimentos climáticos se tornam mais severos, exigindo dos poderes públicos mais políticas públicas para habitação, tirando a população de áreas de risco, onde a maioria que reside são pessoas de baixa renda. Quando não se perde a vida nesses desastres (previsíveis), se perde a dignidade, a casa e o pouco que se tem. Sem ações do Estado, muitas vezes as famílias votam a construir no mesmo local, até que a tragédia se repita.

A Baixada Santista possui o maior déficit habitacional de SP – Em 2019 um estudo realizado na Baixada por sua Agência Metropolitana de Desenvolvimento (Agem), em parceria com a Emplasa e a Universidade Federal do ABC indicava a existência de um déficit estimado de 150 mil moradias na região.

Os dirigentes políticos têm parcela de culpa nesses desastres porque ignoram a especulação imobiliária dentro de áreas territoriais mais baixas (as mais seguras) obrigando que haja ocupações em áreas de morros, onde não se tem investimento em obras de contenção, falta de investimento em projetos de moradias populares e a infraestrutura dentro do local, com escolas, creches área de e lazer e área de base para atendimento de assistência social,cultural e saúde que atenda os anseios daquela região onde vivem as pessoas.

A conta todos pagam, mas quem perde mais é sempre o povo que na sociedade encontra-se em situação de maior vulnerabilidade, os pobres, periféricos e pretos, que muitas vezes pagam com a própria vida.

Julio Bezerra de Sousa Junior e Sidney Bibiano
Diretores da FACESP – Baixada Santista

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